Ainda em 2023, a @unidosdoviradouro me procurou para informar acerca da pesquisa sobre Ludovina Pessoa, nossa ancestral, e saber se poderiam fazer uma homenagem a Dangbe. Confesso que fiquei receosa. Geralmente e infelizmente o que temos visto de representações distorcidas sobre a nossa religião é assustador. Não quis. Mas, apesar de ser a Nadoji do Zoogodô Bogum Malê Hundó, sou uma sacerdotisa do Vodun, não a dona da casa. Falei que precisávamos consultar os búzios. Gbesen se fez presente, fazendo bailar e cair dezesseis búzios, dando permissão para a escola e me dizendo que ele falaria com a escola como queria as coisas, mas que eu não podia falar sobre isso ainda. Ao descer a ladeira do Bogum a escola avistou um arco-íris. Era a confirmação do que buscavam. Alafiou! Esse ano fui para o desfile e pensei que aquela era outra surpresa do vodun: representar a minha comunidade. O carro que estive em destaque mostrava nossas casas de culto. De um lado, a sacerdotisa, representada por mim, do outro, um altar católico, ainda presente em alguns terreiros como memória de um tempo em que a polícia invadia e vandalizava nossos espaços e corpos, e precisávamos fingir que estávamos realizando alguma novena. Fiquei emocionada da hora que desci do ônibus até o final do desfile. Essa não é apenas uma vitória para a Viradouro. É uma vitória para nosso povo de terreiro, para as nossas comunidades, nossas famílias de axé, para a nossa ancestralidade, entoada e lembrada na avenida com responsabilidade e sem caricatura. Terreiro é a casa do sagrado. Pisemos com cautela e respeito. Ludovina Pessoa era uma mulher negra e, assim como seu vodun Gu, guerreira e vitoriosa, pois foi responsável pelo nascimento do Bogum e do Seja Hundé @rocadoventura . É a semente que virou árvore, deu flor e fruto e que volta séculos depois para nos lembrar que os terreiros fazem parte da história do Brasil, resgatar essa história é viver sob a ética e a honra. O caminho que devemos seguir é o rastro da Dan, traçado para nos dar a felicidade. Siga nesse caminho para poder ser acolhido no ninho da serpente, ser aquecido e protegido. Peço desculpas por não responder a todos aqui e no whatsapp.

Nadoji Índia